O cara entre outras coisas escreveu prá lá de 10 livros, entre eles biografias de grandes brasileiros tais como: Luiz Gonzaga, Carlos Gomes, Patativa do Assaré, Demônios da Garoa e muitos outros, além de livro e CD sobre a história do futebol na Música Popular Brasileira. Enfim o homem merece uma biografia e bibliografia tantos são seus artigos para revistas, jornais e agora também nos confins da internet. E não podemos esquecer o Assis radialista, com absoluto sucesso no horário na Radio Capital com seu consagrado ( e que precisava voltar ) "São Paulo, Capital Nordeste" Então vai!
1
– Quando é que você sentiu que o seu roteiro de vida estava ligado às coisas da
cultura, e particularmente da cultura brasileira?
-
Isso aconteceu quando comecei a tomar ciência de que era gente, que existia. E
faz tempo!
2
Você já trabalhou em jornais em áreas da política, chegou até a chefiar
editorias, desencantou com a política?
-
Não, a política é fundamental na vida das pessoas. Mas o fazer político não é
fácil quando se pretende que seja bonito. Mas, sem dúvida, há caminhos tortuosos
e feios que fazem com que os resultados sejam decepcionantes, em prejuízo ao
povo e ao erário público.
3-
Parece que vc era de tendência esquerda, teve problemas como vários dos seus
contemporâneos, mas que eu saiba você nunca fez disso uma bandeira atrás de
reparações, não ficou chorando na beira da estrada para ganhar prestigio e
prendas...
-
Tudo que eu tenho feito até hoje, o fiz por livre vontade. Sempre acreditei
viver por uma sociedade melhor. E essa sociedade é a nossa, a brasileira.
Sinto-me orgulhoso de ser brasileiro.
4-
Mudando um pouco... prá nossa área.Qual foi a primeira música que você lembra
ter ouvido e gostado. E qual disco foi o primeiro que comprou?
-
Os primeiros sons que ouvi foram do mato, da mata, do vento e o trinado dos
pássaros. Mas me encantei mesmo foi com o som das violas e o canto de improviso
dos cantadores da minha terra, a Paraíba. Conheci grandes cantadores, como os
irmãos Dimas e Otacílio Batista, pernambucanos já
falecidos.
5-
Você adora rock não é companheiro? Cita aí umas bandas boas
-
Com o correr do tempo, aprendi que não devo aceitar provocações como essa que vc
me faz. Porém, gosto da música que Alceu e Zé Ramalho fazem, que tem por base as
histórias e sons do folclore nordestino. Fico imaginando uma interpretação da
moda de viola Jorginho do Sertão, por Zé.
6-
Assis, qual a importância da cultura na melhoria do Brasil?
-
A cultura popular é a digital de um povo, e por assim pensar vejo nessa cultura
o alinhamento dos brasileiros com o nosso País. Tenho falado muito sobre a volta
da música às escolas. Tanto, que a respeito fiz até palestra no Congresso
Nacional, há uns três anos. E sou há pouco que projeto a respeito foi aprovado e
que a música voltará às escolas já no próximo ano. Mas é preciso capacitar os
professores nessa matéria. E quando falo música, falo às músicas que enriquecem
o nosso folclore, de Norte a Sul.
7-
Você não ficou tentado a voltar pro Nordeste e abocanhar uma bolsa-família? Ouvi
dizer que teve gente que largou o emprego aqui e voltou prá lá...
-
Sempre vivi da minha profissão de jornalista. E por que voltar a morar no
Nordeste se o Nordeste mora em mim, hein? Gosto daqui também, de São Paulo.
Perceberam isso e até com um título de Cidadão Paulistano já fui agraciado, há
uns dez anos.
8-
Sei que foram muitas, mas quais entrevistas que você fez que marcaram mais ou
que te emocionaram?
-
Difícil lembrar. Mas sem dúvida foi marcante a entrevista que fiz com o
conterrâneo Geraldo Vandré em 1978, para o suplemento Folhetim, da Folha de
S.Paulo. Houve também uma longa reportagem sobre o Esquadrão da Morte,
originalmente para a Folha, mas publicada no velho e bom
Pasquim.
9
– Na sua opinião qual a melhor revista semanal brasileira?
-
Qualquer uma, se me entende. Lendo uma, lê-se todas. São iguais, basicamente. O
que as diferenciam umas das outras é a diagramação e também o papel em que são
impressas. Mas a mais importante foi sem dúvida Realidade, que era da Abril,
como Veja, mas de periodicidade mensal.
10
– Qual a importância de Geraldo Vandré na cultura brasileira?
-
Oriundo da bossa nova, Geraldo Vandré logo percebeu que indo por esse caminho
não iria a lugar nenhum. E aí foi beber na própria fonte, a fonte límpida do
folclore brasileiro. E o resultado é o que se vê: uma obra musical refinada, de
bom gosto e participativa do cotidiano do povo.
11-
E Luiz Gonzaga?
-
Embora também feita com base no nosso folclore, a obra de Gonzaga, bem mais
extensa do que a de Vandré, é uma obra que toca diretamente no coração do povão.
É popular sem ser popularesco. Tanto a de um quanto a do outro não fogem à
temática do cotidiano. É pura arte a dos dois.
12
– E do Assis Angelo?
-
Ahahaha! Sou bom no bater de palmas a novos e velhos talentos.
13-
Quantos livros você já escreveu? Qual o primeiro?
-
Um bocado. O primeiro foi O Brasileiro Carlos Gomes, pela Ed. Nacional, num ano
qualquer dos 70.
14-
Que pergunta faria novamente para o nosso Chico Buarque depois de tanto
tempo?
-
Grande Chico! Entre várias, perguntaria que força o leva a fazer tanta coisa
bonita e se está satisfeito com o que ouve no rádio e vê na TV. Mais: se algum
dia vai trocar de vez a literatura pela música.
15-
Fale de alguns novos projetos. Você não para! E tome Blog todo dia!
-
Um bocado. Aguardemos, não é?
16-
E o mundo tem jeito, Assis?
-
Claro, tudo tem jeito na vida. A primeira forma de se ajeitar este mundinho
doido é tirando do poder os ditadores e alimentando e educando as populações das
duas centenas de países que povoam o planeta, hoje em torno de 7 bilhões.
17-
Qual a cachaça que você recomenda prá gente. A melhor é aquela do Piauí que você
nos honrou conhecer? Cachaça também é cultura! É natural e brasileira
concorda?
-
Impossível eleger a melhor cachaça do Brasil. Minas gerais é um celeiro de boas
marcas. Gosto da Boazinha, Seleta, Germana e Volúpia, que é da minha terra, a
Paraíba. A Mangueira, do Piauí, que me foi apresentada por um amigo, Wilson
Seraine, também é muito boa.
18-
Como abrir a cabeça dos jovens para a brasilidade? Dá um toque.
-
Isso não é fácil. A realidade que, grosso modo, povoa a mente dos jovens,
principalmente, vem por vias eletrônicas, como o rádio e a televisão, que não
oferecem uma programação de qualidade, no sentido de conteúdo e não mero
divertimento, quase sempre banal e de péssimo gosto. Aliás, preferem o rádio e a
TV servir lixo ao povo. Pena. A Internet também é um Deus-nos-acuda. É uma arma,
uma faca de muitos gumes. Se bem usada, muito bem. Mas nem sempre a Internet é
usada como instrumento para educação. De lado essas coisas, acho que a leitura
ainda é um bom caminho para abrir mente de quem deseja o bom e o bem. Monteiro
Lobato dizia que quem ler mais, sabe mais. É por aí. As artes abrem a mente. E
já ta na hora de nos livrarmos da república norte-americana, não
ta?
19-
Sei da sua admiração pelo presidente Lula. No que ele difere dos outros
políticos, afora o fato de ter origens humildes?
-
Acho que ainda falta muito a fazer pelo Brasil. Vejo no Lula a figura de um
grande administrador. É a velha história: fazer política não é fácil. Já houve
quem dissesse, até, que política é a arte de unir os contrários. E nessa arte
não há santo. Tanto que, lato sensu, desconheço um político que tenha sido
canonizado.
20
– Por enquanto é isso Assis – teria aqui umas 1000 perguntas prá fazer, já que
compartilhamos de muitas idéias – mas sei que você é um cabra ocupado e só dá
entrevista com cachê (e não michê como alguns coleguinhas).
Obrigado, e agora pra terminar vamos
virar o jogo. Faça uma pergunta prá gente...
-
Por que você, Alcides, tem medo de expor publicamente o seu
pensamento?
Assis, já falo muito - pelo menos troco idéias com as pessoas, tenho capacidade de me indignar, um sentimento que deveria ser mais comum entre as pessoas - mas deixo para os jornalistas profissionais, que têm enorme importância na sociedade mostrar o que está errado, sempre com democracia e responsabilidade, assim como o camarada Assis Angelo que não sai atirando prá todo lado, antes um grande diálogo dentro do possível.
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